22/07/14
No passado dia 10 de Julho do ano corrente, os
principais Jornais e Imprensa Internacional publicavam aquele que foi o
resultado do Estudo efectuado pela Consultora Internacional Mercer (2014)[2],
sobre as principais cidades do Mundo com um custo de vida elevado, o estudo
teve como objectivo fulcral ajudar os Governos e grandes empresas
multinacionais a avaliar o montante dos prémios a dar aos seus funcionários que
estão em mobilidade internacional (ibid.).
Notícia tal que não nos deixou estupefactos,
pois a quase dois anos a Cidade de Luanda vem fazendo parte das 5 cidades mais
caras do Mundo.
Facto este que não agrada aos Angolanos e de
maneira nenhuma agrega valor para a Economia Angolana, a despeito os níveis de
crescimento alcançados ultimamente serem animadores, enfim, “contra facto não há argumentos”, assim
diz um velho adágio popular.
De acordo do referido estudo (ibid.) entre os
principais factores utilizados para estudo e respectiva classificação constam
os custos relacionados com: Hospedagem, serviços de transporte, alimentação,
entretenimento, segurança, vestuário e electrodomésticos.
PRINCIPAIS
CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS
O conflito armado que o país viveu durante
quase 3 décadas, vem sendo apregoado como o principal influenciador da
degradação de grande parte do tecido empresarial, industrial e infraestrutural.
A elevada taxa de inflação e escassez de
principais bens e serviços também têm corroborado para tal facto, visto que as
taxa de inflação de Angola embora conhecer uma retração de dois dígitos (12%)
para um dígito (8-9%) ainda têm uma forte incidência nos principais bens e serviços
comercializados no País e tendo em atenção que grande parte dele é importado.
Crescimento
Populacional vs Hospedagem
A densidade populacional que Luanda regista,
foi também motivada em grande parte pelo êxodo populacional, visto que a cidade
capital era e é vista como o principal polo de atracção, devido a considerável
assimetria registada entre as demais cidades, a capital do pais ficou a ser
conhecida como o “el dorado” com
aberturas ao investimento e a facilidade na obtenção de renda, em função dos
diversos serviços e actividades que podem ser desenvolvidos grande parte deles
por actividades informais.
Tal como referenciou Lopes (2007:39)[3],
“O processo de crescimento acelerado da economia informal de Luanda tem sido a
resultante da acção conjugada de diversos factores: um fluxo migratório
prolongado e intenso em direcção à capital angolana, em consequência
do conflito militar prolongado; os efeitos das distorções geradas pelo sistema
centralizado e estatizado de organização económica, facilitadores de uma relativa
profusão de instrumentos/mecanismos/circunstâncias susceptíveis de permitirem a
apropriação de rendas”;
Enquanto a população foi conhecendo um
crescimento ascendente, as principais infraestruturas básicas mantiveram
constantes, ou seja, não acompanharam a mesma curva tendencial. No entanto, o
forte crescimento demográfico foi constituindo um obstáculo ao desenvolvimento
visto que a produção não acompanhou o crescimento ou aumento da população, como
consequência, inicia–se um processo de pressão da população sobre os principais
espaços habitacionais, a terra valoriza –se e as habitações tornam –se
raras em face a demanda.
Outrossim, a estabilidade política, a
reconstrução do país e as elevadas taxas
de crescimentos alcançadas, serviram como um chamariz de atração de mão de obra
estrangeira desempregada e a procura de novas oportunidades em escala massiva
que acabaram também por contribuir neste aumento da densidade populacional em
Luanda.
Como
consequência, os preços das
habitações T2, T3, etc.. ganham um ajuste em função da pressão da variável
procura, os apartamentos localizadas em zonas nobres duplicam e triplicam os
preços. O surgimento de novas urbanizações e arquiteturas, mormente
desenvolvidas por estrangeiros acabam por oferecer serviços a preços
exorbitantes em função dos custos e encargos relacionados com: água, luz, mão
de obra expatriada qualificada, etc, etc... e também devido a demanda.
Serviços
de Transporte
A malha rodoviária herdada em grande parte do
colono, sofreu alguma evolução, mais não foi capaz de fazer vasão ao
crescimento do número de viaturas resultantes do aumento da densidade
populacional.
As estradas secundárias e terciárias degradas
e algumas em mau estado de conservação têm contribuído para que o número
considerável de viatura utilizem as principais vias para circular.
A obras, e a requalificação e reabilitação de
algumas vias em muitos dos casos com prazos longos e inacabadas, têm
contribuído também para o agravamento em grande parte dos casos do
engarrafamento que se regista.
O transporte Público deficitário, e sem estrada
específica para transitar, dá azo ao surgimento de uma nova frota de veículos
privados que passaram a destacar –se na transportação de pax[4]
e prestação de serviços públicos.
Como
Consequência, eclodiu um
novo serviço personalizado, aonde os preços em função da qualidade e conforto
acabam por ficar ao olho da cara, e tendo em conta o tráfego normalmente
congestionado, o preço do taxímetro acaba por ser alto.
Alimentação,
Vestuário e Electrodoméstico
Com o tecido Industrial em reconstrução e
sendo uma política estrutural, vai levar ainda muito tempo, a alternativa de
Angola continuará a ser ainda por um bom período de tempo a importação.
De acordo o Ministério da Industria (2013)[5],
o “período, de 1986 a 1994, é marcado por uma queda e quase desaparecimento do
sector da indústria transformadora angolana, tendo como principais causas a
degradação do tecido industrial angolano e das principais infraestruturas,
registando-se a redução do volume de importação das matérias-primas, bem como
fracos investimentos na melhoria e modernização no respetivo sector, em face da
degradação técnica registada nos equipamentos e em grande parte das
indústrias”.
Mais de 60% dos produtos que Angola consome
vêm o exterior. Com o agravamento das taxas Alfandegárias, custos de
transportação e pagamentos de impostos e emolumentos alfandegários, grande
parte destas mercadorias entram a um preço alto.
Como
Consequência, e visto que o
comerciante não quer perder, no cálculo da formação do preço incorpora os
custos relacionados com a importação da respectiva mercadoria, logo, para o
consumidor final grande parte dos produtos alimentares, vestuário e
eletrodomésticos são comercializados a preços, duas ou três vezes
comercializados em outras cidades que em grande parte dos casos produzem tais
bens/produtos.
Entretenimento
e Segurança
O entretenimento em Luanda é caro, visto que
existem poucos lugares que oferecem estes serviços com a qualidade que se
exige.
No entanto os poucos que o fazem e fazem bem,
praticam a um preço elevando, pois em muitos dos casos em função ou aumento da
variável procura, são obrigados a subir o preço também como uma política de
excluir uma determinada camada ou franja da população e dar acesso a outra com
rendimentos médios e altos com forte capacidade de consumo, para além de
poderem desfrutar ou se entreter.
A segurança é privada, embora exista a
pública mais a mesma encontra –se confinada apenas para servir ou garantir a
segurança de lugares estratégicos e figuras públicas de realce.
Como
Consequência, o
entretenimento e a segurança por serem desenvolvidos em grande parte por
privados acabam por ter em conta o lucro que é o fim, visto também que grande
parte dos inputs quer para um e outro,
serem importados, normalmente os serviços são vendidos tendo em atenção a estes
aspectos, que quando comparado com as demais cidades do Mundo afora acabamos
sempre por ganhar.