sexta-feira, 4 de julho de 2014

Mulher Rural Angolana: O novo desafio do Estado Angolano


02/07/14
Jonísio C. Salomão[1]
kams_9@hotmail.com

O governo Angolano deu início a um programa de auscultação a Mulher Rural Angolana, o mesmo possui como objectivo identificar os principais problemas com que se depara a Mulher Angolana no Campo.

As questões relacionadas com a Mulher Rural em Angola datam desde a muito tempo, com o eclodir do conflito armado que o país viveu durante quase três décadas, grande parte dos campos que eram mormente utilizados para o cultivo e a produção dos principais produtos de subsistência acabaram por ser minados, outrossim o conflito originou êxodo rural da população, que acabaram por se instalar nos grandes centros urbanos.

Tal como referenciou Jensen e Pestana (2010:6)[2], “A pobreza é generalizada em Angola e foi agravada pelo prolongado período de guerra civil o que veio a ter sérias consequências humanitárias. A guerra deslocou cerca de 4,5 milhões de pessoas que abandonaram as suas comunidades para se refugiarem nos maiores centros urbanos do país ou em países vizinhos. Isto deixou despovoadas largas áreas rurais e deu origem à criação de musseques e bairros peri-urbanos densamente povoados, em particular à volta da capital, Luanda”.

Altuna (1993: 165) [3], considera que “a mulher é a agricultora-mãe-esposa-dona de casa-doadora de sangue-linhagem”.

A mulher rural em Angola desempenha um papel fundamental no seio familiar, sendo a principal dinamizadora e provedora dos principais alimentos de sustento, e a fomentadora da educação dos filhos, cabendo ainda as responsabilidades acrescidas de ter que cuidar da saúde em localidades aonde os serviços medico-sanitários são diminutos ou não existem.

Principais características do meio Rural em Angola


As características da Mulher Rural estão intrinsecamente relacionadas com as principais características do meio aonde ela vive, sendo os mais referenciados os seguintes:

·      Inexistência ou deficiência dos principais serviços Básicos (educação, saúde);
·      Inexistência ou deficiência no fornecimento de Água e Energia Électrica;
·      Estilo de vida modesto ou simples;
·      Principais meios de trabalhos obsoletos e tradicionais;
·      Desconcentração populacional, principalmente constituído por: pai, mãe e filhos;
·      Agricultura de subsistência;
·      Pastorícia uma das principais actividades;
·      Casamento jovem por parte das raparigas;

O Instituto Nacional de Estatística (INE, 2013)[4], classifica como meio, toda a parte do território Nacional que não é incluída na classificação Urbana[5].


Pobreza no Meio Rural


De acordo o referido relatório (ibid.), a pobreza tem uma incidência maior na área rural (58%) comparativamente com a área Urbana (19%), ou seja, é três vezes mais alto, sendo que, também existe uma concentração desproporcional da população (45%/) e cerca de 72% desta população é pobre, ou seja, em cada 100 habitantes que vivem na área rural 72 são pobres. Como geralmente a mulher apresenta –se em número considerável no meio rural, logo a maior camada da população que sente a pobreza é a mulher (50%) metade das mulheres da zona rural é pobre.

O conceito de pobreza apresentado pelo Banco Mundial, considera pobreza extrema as pessoas que vivem com um rendimento per capita dia inferior a um dólar.

A pobreza no meio rural agrava –se pelo facto do agregado familiar apresentar –se em número considerável, pois a proporção com cinco ou mais pessoas é significativamente  mais alto entre os pobres do que não pobres. (70% e 48%, respectivamente), e pelo facto da informação sobre os métodos anticonceptivos não conhecerem uma ampla difusão no meio rural.
Com os factores acima referenciados, podemos referir que, grande parte da mulher rural é pobre pois não possui fontes de geração de renda e ademais grande parte dela tem uma forte dependência dos chefe de família.


Outros Indicadores Sociais


Saúde

Com ausência dos principais cuidados médicos a taxa de mortalidade no meio rural apresenta –se alta comparativamente no meio urbano. Outrossim é o facto de que existe maior probabilidade de morte das crianças pobres no meio rural do que as não pobres.
Durante o 12 meses de vida em cada 1000 crianças que nascem no meio rural cerca de 129 acabam por morrer. (INE, 2013:59).


Água


No meio rural as principais fontes de abastecimento de água são as águas superficiais, cacimbas e chafarizes públicos, chegando a existir localidades aonde a população tem de percorrer quilómetros a procura do precioso liquido. Grande parte da água distribuída no meio rural não é tratada. (INE, 2013:48).

Saneamento

O saneamento é deficitário no meio rural, as possibilidades de terem acesso a um saneamento digno é  diminuta em cerca de 72% da população, o principal meio utilizado é a latrina seca, chegando o ar livre a constituir em grande do saneamento para a população rural.

Educação

A educação é um outro calcanhar de aquiles, pois a elevada taxa de analfabetismo do meio rural (60%), tem contribuído para a redução da taxa liquida de frequência na escola primaria sobretudo. Quando a mãe não possui nenhum nível de instrução a taxa liquida de frequência tende a ser mais alta comparativamente com mãe possui algum  nível de instrução (50 e 86% respectivamente).

CONCLUSÃO


De forma concludente, podemos salientar que os desafios do estado Angolano no que tange a Mulher Rural Angolana é um passo fundamental para ajudar a reduzir a pobreza extrema que se apresenta com indicadores elevados no meio rural.

A carência dos principais serviços básicos constituem um outro pilar desta empreitada, visto que não podemos falar de pobreza somente reduzindo as questões que estão intrinsecamente relacionadas com a geração de renda, mais também agregar as questões básicas como: água, saúde educação, saneamento básico que igualmente ainda são acentuados no meio rural devido sobre tudo ao modo de vida da população.

Logo, sendo a Mulher rural a principal geradora e a quem recai sobretudo o sustento dos seus filhos é imperioso dota – lá de ferramentas e meios que ajudem em grande parte a reduzir as principais necessidades com as quais ela se depara no seu dia –dia. Surge desta forma o Estado que tem um certo grau de responsabilidade quando os assuntos estão relacionados com as suas principais funções, sendo desta forma um desafio que se julga imperioso vencer.





[1] Mestre em Administração de Empresas; Consultor Empresarial e Técnico Oficial de Contas.
[2]  Relatório publicado pela Chr Michelsen Institute (CMI), centro independente de pesquisa em desenvolvimento internacional e políticas públicas com foco em países pobres.
[3] ALTUNA, Raul de Asúa, 1993: Cultura Tradicional Banto, Luanda: Secretariado Arquidiocesano de Pastoral.
[4] Inquérito sobre o Bem – Estar da População Angolana, 2013.
[5] A área constituída pelas cidades das capitais de província, sedes dos municípios e algumas vilas considera das como cidades. Para além daquelas, serão também consideradas como áreas urbanas as aglomerações com 2000 ou mais habitantes que possuam infra-estruturas básicas (escolas, estradas, posto médico, etc.).

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