terça-feira, 26 de agosto de 2014

CLUSTERS E APL’S: UMA ALTERNATIVA PARA O PROCESSO DE INTEGRAÇÃO DE ANGOLA NA ZONA DE COMÉRCIO LIVRE DA SADC


25/08/14
Jonísio C. Salomão[1]

O Governo Angolano vem sucessivamente adiando a sua integração na Zona de Comércio Livre da Southern African Development Community (SADC), ou seja,  Comunidade dos Países da África Austral, vários têm sido os motivos apontados, um dos principais, é o facto do sector Industrial e Empresarial Angolano não se encontrar solidificado, e a produção nacional encontrar –se num franco desenvolvimento, pelo que, uma abertura de imediato do seu mercado, comprometeria todo um projecto desenvolvido e colocaria em risco o tecido empresarial nacional.

Angola é membro da SADC, desde o ano de 1999, uma comunidade composta por: por quinze Estados Membros, nomeadamente: Botswana, República Democrática do Congo, Lesoto, Madagáscar, Malawi, Maurícias, Moçambique, Namíbia, Seicheles, África do Sul, Suazilândia, Tanzânia, Zâmbia e Zimbabwe, incluindo Angola.

De entre as  várias premissas da criação da SADC, as principais foram: melhorar ou contribuir para o crescimento e desenvolvimento dos países membros, reduzir a pobreza, aumentar a qualidade de vida das populações e  apoiar os mais desfavorecidos através da integração regional.

Como corolário desta integração é criada em 2007 a Zona de Comércio Livre (ZLC), com o objectivo de permitir a eliminação das barreiras sobre o comércio entre os países da SADC, sendo esta eliminação  de barreiras tarifárias e não tarifárias gradativa e sobre a tutela do Comité de Ministros do Comércio, conforme o Protocolo da SADC (2014).

Segundo Rosa Pacavira[2], Ministra do Comércio, Angola está  a elaborar um roteiro que possivelmente em 2017 poderá aderir a ZCL, mas para que tal desiderato se cumpra, Angola necessita de criar uma Indústria com capacidade de fazer frente a outros países, pois caso Angola aderisse já a ZLC deixaria de produzir muitos produtos, devido a oferta em grande escala dos países da SADC.

Clusters e Arranjos Produtivos Locais (APL’s)

As abordagens relacionadas com Clusters e APL’s têm início por volta de 1980 com as contribuições do célebre economista Alfred Marshall[3] no Livro “Princípios de Economia” ao abordar sobre as externalidades das localizações industriais especializadas. Tendo a partir desta data as questões relacionads com a localização e concentração de empresas, tendo  conhecido o termo um novo contorno, na Administração.

Conceitos

O termo Cluster ganhou um novo impacto na ciência social, através do Professor da Escola de Havard, Michael Porter por volta do ano de 1990, através do seu Livro “The Competitive Advantage of Nations”, embora registos apontam que as questões relacionadas com a aglomeração de empresas datam desde a Idade Média.

Clusters, são concentrações geográficas de empresas de um sector específico.  Englobam arranjos de empresas relacionadas e outras entidades importantes para competição. Por exemplo, fornecedores de matérias-primas especializadas, tais como componentes, máquinas, e serviços, bem como fornecedores de infraestrutura especializada (PORTER,1998)[4].

No entanto, Schmitz (1997)[5], apresenta o conceito de cluster como sendo uma concentração geográfica e sectorial de Empresas. O autor defende que as empresas isoladas raramente conseguem obter ganhos significativos do que, quando agrupadas em aglomerados, visto que os ganhos podem podem ser compreendidos como a vantagem competitiva obtida pelas externalidades e acção conjunta.

Arranjos Produtivos Locais (APL’s)

De acordo Lardes (2002), as APL’s são aglomerações territoriais de agentes económicos, políticos e sociais, com foco em um conjunto específico de actividades económicas e que apresentam vínculos e interdependência.
Geralmente, envolvem a participação e a interação de empresas – que podem ser desde produtoras de bens e serviços finais até fornecedoras de insumos e equipamentos, prestadoras de consultoria e serviços, comercializadoras, clientes, entre outros - e suas variadas formas de representação e associação. Incluem, também, diversas outras instituições públicas e privadas voltadas para: a formação e capacitação de recursos humanos, como escolas técnicas e universidades; pesquisa, desenvolvimento e engenharia; política, promoção e financiamento.

Sua Importância no Processo de Integração na  Zona de Comércio Livre – SADC.
O tecido Industrial de Angola encontra –se em reconstrução e sendo um sector que carece de avultados investimentos, apenas funcionará em Pleno a partir de 2020, embora o Plano Nacional de Desenvolvimento de Angola (PND, 2013-2017) apresente algumas metas para o ano de 2017.
Não existe um sector Industrial forte e a funcionar em pleno, sem que a questão relacionada com o abastecimento de energia elétrica no país esteja  regularizada.
De acordo João Baptista Borges[6], Ministro da Energia e Águas, “o grande objectivo é atingir 9 mil MW até 2025, isto significa multiplicar para 4 a capacidade actual, e o grande recurso será a produção hídrica. O potencial do país inventariado ainda no tempo colonial é de 18 mil MW, é possível amplia-lo com as novas tecnologias”.
Grande parte dos produtos consumidos (mais de 80%) vêm do exterior do país devido a fraca indústria transformadora.
Uma alternativa que apontamos, podem ser os Clusters e APL’s, ou seja, em face as diversas responsabilidades que o Executivo Angolano têm, mormente relacionadas com o Sector Social, a aposta na Economia Real deveria ser efectuada mediante Clusters de Industrias no sector produtor e transformador com grande participação do sector privado, visto ser ele o dinamizador e um dos principais geradores da mão de obra, contribuindo para redução do desemprego.
Destarte, para grande programas infraestruturas existentes e a desenvolver, deveriam existir um aglomerado de empresas, em vez de empresas isoladas, que deveriam concorrer para tal fim, teríamos um sector empresarial capaz de fazer frente as demais empresas oriundas de economias robustas como África do Sul, que facilmente conseguiriam inundar o nosso mercado com produtos e preços competitivos.
Para tal desiderato deveriam os Clusters ou APL’S que pretendem se organizar no mercado nacional, beneficiar de um tratamento diferenciado as demais empresas existentes, visto que elas teriam objectivos e missões especificas contribuindo assim para oferta de bens e serviços que não existem no mercado nacional, e seriam o suporte do Governo para determinados programas.
Os sucessivos adiamentos não podem ser constantes, deverá sim existir uma estratégia bem definida a médio e longo prazo, pois caso contrário o actual cenário (adiamento ZLC) se manterá inalterável por um bom período de tempo.






[1] Mestre em Administração de Empresas; Consultor Empresarial e Técnico Oficial de Contas.
[2] Cf. a Entrevista no Jornal de Angola.
[3] Cf. Marshall Alfred. Principles of Economics. London: Macmillan, 1890.
[4] PORTER, M. E. Clusters and the new economics of competition. Harvard Business Review, Boston, 1998.
[5] SCHMITZ, H. Collective efficiency and increasing returns. IDS Working Paper, Brighton, 1997.

[6] Cf. noticiou o portalangop.co.ao

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